uma estratégia para atacar problemas grandes

citação de von Neumann

Felizmente várias vezes é possível conseguir o que queremos com ações nossas, sem muitas outras pessoas envolvidas e sem muitas variáveis externas. Nesses casos é fácil determinar as causas e efeitos, e a nossa intuição funciona muito bem. Por outro lado pode ser que haja milhões, bilhões de pessoas envolvidas. Nesse caso a nossa intuição nos joga pro caminho errado, que além de não funcionar pode desperdiçar nosso tempo. Eu gostaria de explorar como isso acontece e propor uma estratégia que, apesar de não ser fácil, tem mais chance de funcionar nesses casos complicados.

No caso em que as nossas ações praticamente determinam o resultado, temos um problema de máximo. Estamos procurando quais ações possíveis vão produzir os melhores resultados. Se encontrarmos, isso basta.

No casos com vários envolvidos, a nossa intuição diz que devemos procurar quais combinações de ações — que agora chamarei de estratégias — produziriam os melhores resultados. Realmente é necessário encontrar essas estratégias para chegar numa solução, mas raramente isso é suficiente. Esse caso é um jogo, e ele é fundamentalmente diferente.

Não existem “melhores resultados” agora, apenas “melhores resultados para fulano”. Cada um tem preferências diferentes. A não ser que haja consenso, não existe nenhum procedimento óbvio para dizer o que o grupo prefere. Mesmo que você tentasse fazer essa associação — como utilitaristas e coletivistas tentam — talvez ela pudesse servir como base para prescrever o que as pessoas deveriam fazer, mas ela não seria capaz de descrever o que elas fazem.

Ainda que haja consenso, e todos prefiram os resultados de uma combinação de estratégias do que de outra, pode ser que a outra aconteça. Alguns exemplos muito comentados disso são o dilema do prisioneiro, a tragédia dos comuns, o aquecimento global… o problema é que, no cenário ideal desses exemplos, os indivíduos são incentivados a trocar de estratégia e se afastar do cenário ideal. Frequentemente as pessoas reconhecem esse fato, mas nem sempre reconhecem que sempre estaremos vulneráveis a ele. As pessoas nunca vão deixar de ser indivíduos e elas nunca vão deixar de terem preferências diferentes.

Ok, então é necessário considerar se o cenário ideal é estável quando as pessoas começam a trocar de estratégia. Ótimo! Mas também pode ser que o cenário ideal seja favorável para todos, seja estável e ainda assim demore muito a acontecer ou nem aconteça. Um exemplo disso é a adoção do IPv6. Todos concordam que seria melhor ter mais endereços de ip, mas no cenário atual os indivíduos envolvidos são incentivados a se manterem no IPv4 para evitarem custos no curto prazo. Mais de 20 anos mais tarde a adoção do IPv4 como medida pelo Google continua sendo a maioria. Ou seja, também é necessário que os incentivos de troca de estratégia formem um caminho contínuo entre o cenário atual e o cenário idealizado.

Um exemplo de estratégia assim é o método científico. Quem praticava ciência era recompensado com um entendimento melhor da realidade, o que não só satisfaz a curiosidade humana como também evoluiu a tecnologia. Outro exemplo é o protocolo do Bitcoin. Quem publicou essa estratégia queria que o sistema financeiro tradicional — com bancos e impressão dinheiro — fosse substituído por outro sistema que ele preferia — com transações diretas entre pessoas e suprimento limitado. Menos pessoas reconhecem isso como algo bom do que, digamos, o método científico. Independentemente disso, até agora quem adotou foi recompensado com a valorização da moeda, e por isso muito já aconteceu nessa direção.

Estamos acostumados com o problema de otimização do nível individual. Talvez por isso propostas envolvendo governos ou alguma espécie de herói sejam tão populares. O herói age e resolve o problema por si só. A estrutura hierarquizada do governo deixa ele mais parecido com um indivíduo. No entanto nem heróis nem governos conseguem evitar que as pessoas busquem seus próprios interesses.

Em resumo, estou tentando espalhar a estratégia de que desenvolver protocolos e estratégias é a forma mais robusta de produzir mudanças quando há muitas pessoas envolvidas. Apesar de ser também muito mais difícil.

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